quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PARA QUE SERVEM AS ONGs, AFINAL?

É  pergunta feita pela doutora Maria Alice Setubal( Folha de São Paulo - 15/12/11), da Fundação Tide Setubal e do IDS-Instituto Democracia e Sustentabilidade. Diz Maria Alice que " as ONGs que lutam nas áreas de saúde, educação, meio ambiente, cultura, pelos direitos das crianças, mulheres, negros e povos indígenas, entre outras, cumprem uma função primordial para a consolidação da democracia brasileira(...) Segundo a doutora Maria Alice " as ONGs não são instituições per si, são formadas por cidadãosa  que investem energia e conhecimento em um trabalho orientado pelo desejo de construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos". São frases vazias, de retórica, afirmações vagas que não tocam no âmago da questão das causas que infelicitam os povos, as populações oprimidas pelo sistema capitalista, pela onda neoliberal.Em 2002 escrevi um texto: ONGs, Neoliberalismo e Socialismo, que consta do meu livro Variedades do Cotidiano- Um Enfoque dialético, onde faço algumas reflexões sobre a atuação das ONGs numa linha, numa análise diametralmente oposta a da doutora Maria Alice. Vários autores, entre eles James Petras, o linguista Noam Chomski e Marta Hanecker, para citar os mais atuantes no "campo das esquerdas", têm feito duras críticas às ONGs. As manobras das ONGs neoliberais, por mais sutilezas que possam ter, não escondem suas posições contrárias ao socialismo, principalmente as ONGS ambientalistas que pregam o ecosocialismo, que querem maquiar o capitalismo. Seja qual for o real aparecimento das ONGs, a verdade é que tem se convertido, com raras exceções, num excelente elemento desmobilizador das lutas populares e revolucionárias. E estas organizações estão cheias de ex-militantes de organizações da resistência que, honestamente estão na luta, mas que estão ali, divididos, diminuidos, equivocados e, o que é pior, muitos deles já cooptados ao sistema. Segundo Petras, as ONGs se adornaram com a linguagem da esquerda: " poder popular", " fortalecimento do poder", " igualdade de gênero", " desenvolvimento sustentável", " sociedade organizada", etc. O problema é que essa linguagem está vinculada a uma estrutura de colaboração com os doadores - tipo Al Gore, Fundação Ford, Fundação Rockefeller - e agências governamentais que subordinam a atividade prática à política de não confrontação. Suas ações se restrtingem a falar dos " excluídos", da " extrema pobreza", da " discriminação racial ou de gênero", sem ir mais além dos sintomas, comprometendo-se assim com o sistema social que produz e reproduz essas condições. Ao incorporar os pobres à economia neoliberal através, somente, da " ação voluntária privada" , as ONGs criam um mundo político no qual a aparência de solidariedade e ação social oculta uma conformidade conservadora com relação à estrutura do poder nacional e internacional. Por isso não é casual que em regiões onde as ONGs são dominantes, os movimentos de ações políticas independentes tenham enfraquecido e o neoliberalismo campeia sem oposição alguma. Por sinal a grande maioria das ONGs e seus militantes se opõem à militância político-partidária. A alienação os torna apartidários! Enquanto a maioria das ONGs são instrumentos do neoliberalismo, há uma pequena minoria que tenta desenvolver uma estratégia alternativa que apoia políticas de classe e anti-imperialista. Essas não recebem recursos do Banco Mundial ou de agências governamentais europeás ou norteamericanas. A aparente neutralidade exigida e praticada  pelas ONGs é uma neutralidade cúmplice do sistema, pois convida a não lutar, acalmar os ânimos da rebeldia dos povos, que não estão dispostos a ser explorados impunemente. Acreditamos que a alternativa real para os pobres não pode ser a luta individual, a ajuda ao regime, a passividade, que estão embutidas nas ações das ONGs. A alternativa é a luta pelo socialismo!

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