sábado, 14 de setembro de 2013

ROCK IN RIO VERSÃO 2013


O texto abaixo está no meu livro Escritos de Resistência e foi publicado, originalmente, em 09.01.1985, portanto há 28 anos. Excluídos os grifos em vermelho, infelizmente, está atualíssimo.


ROCK IN RIO, A GRANDE ALIENAÇÃO

Temos acompanhado, via televisão, o espetáculo que se iniciará dia 11, denominado Rock in Rio. Sem dúvida, é um espetáculo que chama a atenção pelo colorido dos recursos luminosos e principalmente pelo custo do espetáculo, numa época de crise e num Estado onde a violência, fruto da miséria, está mais exacerbada.
Por outro lado não deixa de ser triste, num país como o nosso, presenciarmos estes gastos de milhões de cruzeiros jogados fora para alienar a juventude. Isso porque o Rock in Rio está sendo realizado numa época em que nós estamos lutando por  mudanças institucionais, onde é importante a participação da juventude. O Rock in Rio se realiza justamente num período em que se dará a eleição no Colégio Eleitoral. Realizar-se-á próximo ao Riocentro, onde um festival de música popular quase se transformou em tragédia, não fosse o “acidente de serviço” – a bomba que explodiu no carro do militar, antes de chegar ao destino –  que até hoje continua impune.
Concordamos com o futuro presidente Tancredo Neves quando afirma que “a juventude do Rock in Rio não é a sua juventude; a sua juventude é a que trabalha, estuda e luta”. Apesar de Roberto Medina ter tentado fazer com que Tancredo desmentisse o que afirmou, tal não aconteceu.
Roberto Medina foi quem tentou se recompor, como um bom adesista de última hora, que está se locupletando com esse espetáculo envelhecido em 20 anos. Tentou uma conciliação com Tancredo ao dizer que o dia da votação será apresentado nos canais de televisão instalados no local do Rock in Rio. Disse também que o eleito será anunciado durante o evento.
Nós temos de triste memória essas “fases” da juventude, fabricadas com objetivos políticos, para amortecer a participação dos jovens nas mudanças institucionais dos seus países. É bom fazer uma breve retrospectiva dessas “fases”.
Tivemos o período da juventude transviada, a qual se confundiu com a Guerra da Coréia, onde jovens americanos eram levados para morrer sem necessidade. No Brasil, coincidiu com a campanha do Petróleo é Nosso e com as atuações golpistas contra o governo nacionalista de Getúlio Vargas. Poderia citar outros fatos políticos que envolviam a participação da juventude na América Latina, no Caribe, na África e Ásia. Em seguida tivemos os Movimentos da Contracultura, dos hippies envolvidos com as drogas, intencionalmente dirigidos para afastá-los do processo político. Essa “fase” deu-se durante a guerra suja do Vietnã, os famosos Dias de Maio na França, a época dos Atos Institucionais no  Brasil, quando os estudantes faziam as grandes manifestações de protesto; lembrem-se que foi nessa época que assassinaram o jovem Edson Luiz, no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro.
Por isso é bom ter sempre presente que enquanto a juventude “curtia o astral”, o hippismo e outras manifestações alienantes, a universidade brasileira era “fechada”, aplicava-se o 477 indiscriminadamente, firmava-se os acordos dos MEC-USAID, enfim, destruía-se a universidade brasileira através de pseudo- reformas. Os jovens eram proibidos de reunirem-se nos grêmios estudantis e diretórios acadêmicos. Fecharam as sedes da UBES e UNE, baluartes nas lutas contra o nazi-fascismo  e na formação de grandes quadros políticos, entre eles o nosso governador José Richa, o deputado goiano Aldo Arantes e o economista José Serra, colaborador da equipe econômica de Tancredo Neves, os quais sempre estiveram junto daquela juventude que estuda, trabalha e luta.
José Martí, o apóstolo da independência cubana, falecido em 1895, disse certa vez que “quem presencia um crime em silêncio, o comete”. Não podemos calar ao presenciar mais esse crime, onde se tenta envolver a nossa juventude afastando-a do processo das decisões políticas.
Mais uma vez concordamos com o candidato Tancredo Neves, pois a verdadeira juventude está pivetiando pelas ruas das grandes cidades, trabalhando como bóia-fria nos canaviais, cafezais, cacauais e outras lavouras, afastados dos bancos escolares. Essa juventude não tem tempo – e nem pode – “curtir o astral”, ser hippie, transviar-se ou participar dos Rock in Rio da vida.
Por isso o Rock in Rio é um engodo que visa ao lucro, usando a juventude. A quem interessa esse tipo de coisa? Interessa à máfia das drogas, à máfia do tóxico, porque assim poderão faturar em cima da destruição da juventude.
Por trás desses espetáculos estão os interesses golpistas.

Publicado originalmente em:Correio de Noticias, Curitiba – 09.01.1985





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