domingo, 22 de dezembro de 2013

O DECLÍNIO DOS EUA (E DE TODOS OS OUTROS)* (III)

                                            
Washington tem perdido influência econômica na Ásia para a China mas está a montar uma contra-ofensiva regional, baseada na sua rede de bases militares no Japão, nas Filipinas e na Austrália. Está a promover um novo acordo econômico pan-pacífico que exclui a China. Isso demonstra a capacidade dos Estados Unidos de interferir e aumentar lucros imperiais. Mas anunciar novas políticas e organizações não é o mesmo que implementá-las e dar-lhes conteúdo dinâmico. Mas o cerco militar à China é anulado pela dívida de trilhões de dólares a Pequim.                                     
Um cerco militar agressivo à China podia resultar numa venda maciça de dólares do Tesouro Americano e quinhentos investidores principais americanos a verem voar os seus investimentos.
O poder dividido entre um poder estabelecido e um emergente, tal como a China e os Estados Unidos, não pode ser «negociado» via superioridade militar norte-americana. Ameaças e chicanas diplomáticas são meras vitórias diplomáticas mas só avanços econômicos a longo prazo podem criar os cavalos de Tróia domésticos necessários para erodir o crescimento dinâmico da China. Mesmo hoje, a elite chinesa despende enormes somas para educar os seus filhos em «prestigiadas» universidades inglesas e norte-americanas onde são ensinadas doutrinas de economias de mercado livre e narrativas imperialistas. Na passada década, políticos chineses influentes e investidores ricos enviaram trilhões de dólares em operações lícitas e ilícitas para bancos no exterior, investindo em grandes propriedades na América do Norte e na Europa e despachando milhões para paraísos fiscais. Hoje, há uma facção poderosa de economistas e conselheiros de elite financeira na China a forçar «a liberalização financeira», ou seja, a entrada da especulação especializada de Wall Street e da City de Londres. Enquanto as indústrias chinesas podem estar a ganhar a competição nos mercados estrangeiros, os Estados Unidos conseguiram e estão a conseguir superar os patamares da estrutura financeira da China.
A quota norte-americana na América Latina pode estar a declinar, mas o valor absoluto do dólar comercial aumentou muito em relação à última década.
Os Estados Unidos podem ter perdido clientes da ala direita na América Latina, mas os novos regimes centro-esquerda estão a colaborar ativamente com a maioria das grandes companhias de mineração americanas e canadianas e com as casas de câmbio. O Pentágono não tem conseguido montar golpes militares, com a patética exceção das Honduras, mas ainda mantêm as suas relações estreitas com os militares da América Latina sob a forma de (1) política regional de «terrorismo», «narcotráfico» e «imigração», (2) dando treino técnico e doutrinação política através dos programas «educacionais» militares e (3) e treinamento militar conjunto.
Em resumo, as estruturas do império norte-americano, corporativas, financeiras, militares e político-culturais, todas permanecem no mesmo lugar, prontas a recuperar o domínio se e quando surgirem as oportunidades políticas. Por exemplo, um declínio agudo no preço de mercadorias provocaria igualmente uma crise funda e intensificaria os conflitos de classe entre os regimes centro-esquerda, que são dependentes de exportações agro-mineiras para ter fundos para os programas sociais. Em qualquer confrontação os Estados Unidos trabalhariam com e através dos seus agentes nas elites econômica e militar para os regimes incumbentes e re-impor clientes neo-liberais.
A fase atual de políticas pós neo-liberais e configurações de poder está vulnerável. O «declínio relativo da influência e poder» dos Estados Unidos podem ser revertidos mesmo que não regressem à sua configuração anterior. O ponto teórico é que enquanto as estruturas imperialistas permanecem no lugar e enquanto as suas contrapartidas no exterior mantêm posição estratégica, os Estados Unidos podem restabelecer a sua primazia na configuração global de poder.
A redução de preços imperial não requer os «mesmos rostos de sempre». Novas figuras políticas, especialmente com credenciais progressistas e tons leves de uma ideologia «social impulsionaria» já jogam um papel nas novas redes centradas no império. No Chile, o novo presidente «socialista» Michele Bachelet, e no Peru o ex-nacionalista peruano, o presidente Ollanta Humala, são os maiores impulsionadores da Sociedade Trans-Pacífico, um bloco comercial que compete com o Mercosul nacionalista e a Alba, e exclui a China. No México, o cliente dos Estados Unidos presidente Enrique Peña Nieto está privatizar a «jóia» da economia mexicana, PEMEX, a gigantesca companhia pública de petróleo — aumentando o poder de Washington sobre os recursos de energia regionais e aumentando a independência americana do petróleo do Oriente Médio. O presidente colombiano Santos, o «presidente da paz», está a negociar com entusiasmo o fim da guerrilha para expandir a exploração multinacional dos minérios e dos recursos energéticos localizados nas regiões da guerrilha, um projecto que vai beneficiar essencialmente as companhias petrolíferas dos Estados Unidos. Na Argentina, a companhia petrolífera estatal, Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) assinou um acordo de «joint venture» com o gigante petrolífero Chevron, para explorar uma jazida enorme de gás e petróleo, conhecida como Vaca Muerte. Isso incrementará a presença norte-americana na Argentina na produção de energia juntamente com as maiores incursões feitas pela Monsanto no poderoso sector agro-comercial.

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