quinta-feira, 20 de novembro de 2014

NÃO HÁ DIFERENÇA ENTRE O NARCOTRÁFICO, A BURGUESIA E AS ELITES


O negócio da droga está em linha com a financeirização da economia global


Raul Zibechi

La Jornada

Proponho que parar de falar sobre narco (tráfico de drogas ou tráfico de drogas), como se fosse uma empresa separada para os outros que fazem as classes dominantes. Culpar os traficantes ajuda despolitizar o debate e desviar o núcleo para revelar os terríveis acontecimentos: a aliança entre a elite econômica e do poder de estado militar para esmagar a resistência popular. O que chamamos de narco faz parte da elite e, como ela, não pode deixar de ter laços estreitos com os Estados.

A história muitas vezes ajudar a lançar luz sobre os acontecimentos atuais. A pirataria, como uma prática de saques e banditismo no mar, desempenhou um papel importante na transição hegemônica, enfraquecendo Espanha, o poder colonial decadente por potências emergentes França e Inglaterra. A única diferença entre corsários e piratas é que eles receberam "cartas de corso", assinada por monarcas, legalizando suas ações ilegais quando realizada contra navios e locais das nações inimigas.

Os poderes assim teve adicional armada sem as despesas envolvidas e conseguiu enfraquecer seus inimigos "outsourcing" da guerra. Além disso, a utilização dos serviços de corsários custos políticos não pagas, como se os danos que causou estavam "transbordando" para além do controlo da monarquia, quando na verdade eles não tinham autonomia das elites no poder. A linha entre o que é legal eo que é ilegal é fraco e variável.

Encontro várias razões para deixar de considerar os narcos como distintas da burguesia e do Estado.

A primeira é histórica. É bem conhecido o caso de Lucky Luciano, chefe da Cosa Nostra preso nos Estados Unidos. Quando as tropas norte-americanas desembarcaram na Sicília em 1943 para lutar contra o regime de Mussolini, que teve o apoio ativo da máfia. O governo dos EUA chegou a um acordo com Luciano, para o qual mobilizou seus partidários em favor dos aliados em troca de sua subseqüente deportação para a Itália, onde viveu o resto de sua vida a organizar seus negócios ilegais.

Os mafiosos também foram anticomunista fervoroso, que foram utilizados na luta contra as forças de esquerda no mundo e como tropas de choque contra os sindicatos norte-americanos.

Em segundo lugar, a superpotência usou o negócio da droga em sua intervenção militar no sudeste da Ásia, particularmente na guerra contra o Vietnã. Mas no local, no mesmo período, para destruir o movimento revolucionário Black Panther. Em ambos os casos, a CIA desempenhou um papel proeminente. Sobre os dois primeiros pontos são dezenas de publicações, tornando desnecessário entrar em detalhes.

Em terceiro lugar, a Colômbia é o principal teste no uso de grupos criminosos contra as organizações revolucionárias e as massas. Um relatório Americas Watch, de 1990, afirma que o cartel de Medellín liderado por Pablo Escobar, atacando sistematicamente "sindicais líderes, professores, jornalistas, defensores dos direitos humanos e da esquerda política, particularmente da União Patriótica" (Americas Watch, a guerra contra as drogas na Colômbia, 1990, p. 22).

Logo em seguida, diz que "os traficantes de drogas tornaram-se grandes proprietários de terra e, como tal, eles começaram a compartilhar o direito político dos proprietários de terras tradicionais e dirigir alguns dos grupos paramilitares mais notórios."

Este é o ponto-chave: a confluência de interesses entre os dois setores que buscam enriquecer e manter quotas de poder, ou adquirir mais poder, em detrimento dos camponeses, os setores populares e da esquerda. Tudo indica que a experiência colombiana -em particular, a aliança de traficantes de drogas e outros setores das classes dominantes está sendo replicado em outros países como México e Guatemala, e está disponível para aplicação onde a elite mundial considerem necessário. E mais,  isto não poderia ser feito sem a ajuda da agência norte-americana de "drogas" e suas forças armadas.

Em quarto lugar, precisamos entender que o negócio da droga é parte da acumulação por espoliação, tanto na forma como no conteúdo. Funciona como uma empresa capitalista, como "uma atividade econômica racional", conclui o livro como Cocaine & Co., de sociólogos colombianos Ciro Krauthausen e Luis Fernando Sarmiento (Third World Publishing, 1991).Tem algumas diferenças com os outros negócio capitalistas, só porque é uma atividade ilegal.

A violência criminal, por vezes, considerado louca, é o argumento  usado, frequentemente, pelos meios de comunicação e autoridades para enfatizar determinados aspectos do negócio da droga. É tão falso quanto seria atribuir natureza criminal para o cultivo e comercialização de bananas porque em dezembro 1928 foram assassinados  800 mil grevistas que trabalhavam na United Fruit Company na Ciénaga de Santa Marta, norte da Colômbia. Algo semelhante poderia ser atribuído ao negócio de petróleo ou de mineração, manchado de sangue em todo o mundo.

O negócio da droga está em linha com a financeirização da economia global, através do qual converge através dos circuitos bancários onde seus ativos são lavados. É bom lembrar que durante a crise de 2008 o dinheiro do tráfico manteve a fluidez do sistema financeiro, sem cujas contribuições teriam  sofrido um bloqueio  que teria paralisado grande parte dos bancos.

Finalmente, aquilo que mal chamamos de narco tem exatamente os mesmos interesses que os setores mais concentrados da burguesia, com a qual  se mimetiza, que consiste em  destruir o tecido social, para tornar  impossível e impraticável a organização popular. Nada pior do que seguir os meios de comunicação que apresentam os narcos como bandidos irracionais. Tem uma estratégia, de  classe, a mesma a qual pertencem.

Fonte: rebelion.org

Tradução e adaptação: Valdir Silveira

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