terça-feira, 12 de maio de 2015

A COLETIVIZAÇÃO E O " HOLOCAUSTO UCRANIANO" (I)


A partir dessa primeira matéria estaremos divulgando algumas partes do livro de Ludo Martens, falecidoem 2011, " Um outro olhar", sobre o grande líder russo Josef Stalin, timoneiro da luta e derrota do tirano e assassino dos judeus Hitler.

A coletivização e o «holocausto ucraniano»

 

As mentiras debitadas sobre a coletivização foram sempre as armas prediletas da

burguesia na guerra psicológica contra a União Soviética. Analisamos aqui o mecanismo de uma das mentiras mais «populares», a do holocausto cometido por Stáline contra o povo ucraniano. Esta calúnia brilhantemente elaborada devemo-la ao gênio de Hitler. Noseu Mein Kampf, escrito em 1926, já tinha indicado que a Ucrânia pertencia ao «lebensraum» [espaço vital] alemão. A campanha lançada pelos nazis em 1934-1935, sobre o tema do «genocídio» bolchevique na Ucrânia, destinava-se a preparar os espíritos para a projetada «libertação» da Ucrânia. Veremos por que esta mentira sobreviveu aos seus criadores nazis para se tornar numa arma americana. Eis como nasceram as fábulas sobre os «milhões de vítimas do stalinismo».

Em 18 de Fevereiro de 1935, nos Estados Unidos, a imprensa de Hearst – o grande
magnata da imprensa e simpatizante dos nazis – inicia a publicação de uma série de

artigos de Thomas Walker, apresentado como grande viajante e jornalista, que viajou através da União Soviética durante vários anos. À cabeça da primeira página do Chicago American, de 25 de Fevereiro, surgiu um título enorme: «A fome na União Soviética faz seis milhões de mortos. Colheita dos camponeses confiscada, homens e animais rebentam». A meio da página, um outro título: «Jornalista arrisca a vida para obter fotos da carnificina». No rodapé: «Fome – crime contra a humanidade».1

Na época, Louis Fischer trabalhava em Moscovo para o jornal The Nation. A matéria do seu colega, um ilustre desconhecido, intriga-o profundamente. Por isso investiga o caso e apresenta as conclusões aos leitores do seu jornal.

«O senhor Walker informa-nos que entrou na Rússia na última Primavera, ou seja, a Primavera de 1934. Ele viu a fome. Fotografou as suas vítimas. Recolheu testemunhos em primeira mão sobre a devastação da fome que vos despedaçaram o coração. A fome na Rússia tornou-se um tema muito quente. Por que razão teria o senhor Hearst guardado estes artigos sensacionais durante dez meses antes de publicá-los? Decidi consultar as autoridades soviéticas sobre o assunto. Thomas Walker esteve uma única vez na União Soviética. Recebeu um visto de trânsito no consulado soviético, em Londres, no dia 29 de Setembro de 1934. Entrou na URSS a partir da Polónia, de comboio, em Negoréloe, no dia 12 de Outubro de 1934. Não na Primavera, como afirmou. No dia 13 chegou a Moscovo. Permaneceu em Moscovo de sábado, 13, a quinta-feira, 18, e tomou em seguida o Transiberiano que o levou à fronteira entre a União Soviética e a Manchúria em 25 de Outubro de 1934 (...) Teria sido impossível a Mr. Walker, nos cinco dias compreendidos entre 13 e 18, percorrer um terço dos pontos que “descreve” por experiência própria. Minha hipótese é que permaneceu tempo

suficiente em Moscovo para obter no azedume de terceiros a “cor local” ucraniana de que necessitava para dar a seus artigos a falsa verosimilhança que têm

Um amigo de Fisher, também americano, Lindsay Parrot, havia estado na Ucrânia no começo de 1934. Não viu qualquer sequela da fome de que fala a imprensa de Hearst.

Pelo contrário, a colheita de 1933 tinha sido abundante. Fisher conclui: «A organização de Hearst e os nazis desenvolvem uma cooperação cada vez mais estreita. Não vi que a imprensa de Hearst tivesse publicado os relatos do Sr. Parrot sobre uma Ucrânia soviética próspera. O Sr. Parrot é o correspondente do Sr. Hearst em Moscovo...»2

 

Na legenda da fotografia de uma pequena rapariga e uma criança esquelética, Walker escreveu: «Terrível! A Norte de Khárkov, uma rapariga muito magra e o seu irmão de dois anos e meio. Esta criança rastejava pelo chão como um sapo e seu pobre pequeno corpo estava tão deformado por falta de comida que não parecia humano

Douglas Tottle, sindicalista e jornalista canadiano, que consagrou um livro

notavelmente bem documentado sobre o mito do «genocídio ucraniano», descobriu a fotografia da criança-sapo, supostamente datada da Primavera de 1934, numa publicação de 1922 sobre a fome na Rússia. Uma outra foto de Walker foi identificada como sendo a de um soldado da cavalaria austríaca, ao lado de um cavalo morto, tirada durante a I Guerra Mundial.3

Triste senhor Walker: a sua reportagem é falsa, as suas fotos são falsas, até ele próprio é falso. O verdadeiro nome deste homem é Robert Green. Evadiu-se da prisão do Estado de Colorado após ter cumprido dois anos de uma pena de oito. Depois foi inventar a sua reportagem para a União Soviética. No regresso aos Estados Unidos foi preso e reconheceu diante do Tribunal jamais ter posto os pés na Ucrânia.

O multimilionário Wiliam Randolph Hearst encontrou-se com Hitler no final do Verão de 1934 para concluir um acordo estipulando que a Alemanha passaria a comprar as suas notícias internacionais ao International New Service, uma agência que pertencia ao grupo Hearst. Nessa época, a imprensa nazi já tinha iniciado uma campanha sobre «a fome na Ucrânia». Hearst dará a sua contribuição graças à imaginação do seu grande explorador, o sr. Walker.4

Na imprensa de Hearst apareceram outros testemunhos do mesmo gênero sobre a

fome. Um certo Fred Beal pô-los em letra de forma. Operário americano condenado a 20 anos de prisão na sequência de uma greve, Beal refugiou-se na União Soviética no ano de 1930, trabalhando durante dois anos na fábrica de tratores de Khárkov. Em 1933, publica um pequeno livro intitulado Foreign workers in a Soviete Tractor Plant, onde relata com simpatia os esforços do povo soviético. No final de 1933, regressa aos Estados Unidos. Encontra o desemprego, mas também a prisão. Em 1934, começa a escrever sobre a fome na Ucrânia, após o que as autoridades reduzem de forma significativa a sua pena. Quando o seu «testemunho» é publicado por Hearst, em Junho de 1935, J. Wolynec, um outro americano que tinha trabalhado cinco anos na mesma fábrica em Khárkov, apontará as mentiras que entremeavam o texto. Sobre as inúmeras conversas que Beal alegava ter registrado, Wolynec nota que Beal não falava nem russo nem ucraniano. Em 1948, Beal ofereceu outra vez os seus serviços à extrema-direita como

testemunha de acusação contra comunistas perante o Comité McCarthy.5 Um livro com a chancela de Hitler.

Em 1935 é publicado em alemão o livro Muss Russland hungern?, do Dr. Ewald

Ammende. Tem como fontes a imprensa nazi alemã, a imprensa fascista italiana, a

imprensa dos emigrados ucranianos e «viajantes» e «especialistas», assim citados, sem qualquer outra precisão. Publica fotografias que afirma «constarem entre as fontes mais importantes sobre a realidade actual da Rússia». «A maior parte foi tirada por um especialista austríaco», explica laconicamente Ammende. Há também fotos pertencentes ao Dr. Ditloff, que foi, até Agosto de 1933, director da Concessão Agrícola do governo alemão no Cáucaso do Norte. Didoff afirma ter fotografado, no Verão de 1933, «nas regiões agrícolas da zona da fome». Ora sendo Ditloff funcionário do governo nazi, como  teria podido deslocar-se do Cáucaso até Ucrânia para caçar tais imagens? Das fotos de Ditloff, sete já tinham sido publicadas por Walker, entre as quais está a da «criança sapo». A fotografia que

 

 

mostra dois jovens esqueléticos, símbolos da fome ucraniana de 1933, pôde ser vista na série televisiva La Russie, de Peter Ustinov. Foi retirada de um filme-documentário sobre a fome na Rússia de 1922! Uma outra foto de Ammende, afinal

também já tinha sido publicada pelo órgão nazi Volkischer Beobachter, em 18 de Agosto de 1933, e foi igualmente identificada em livros datados de 1922.

Ammende tinha trabalhado na região do Volga em 1913. Durante a Guerra Civil de

1917-1918, ocupou cargos nos governos contra-revolucionários germanófilos da Estónia e da Letónia. Depois trabalhou para o governo de Skoropádski, instalado pelo exército alemão na Ucrânia, em Março de 1918. Afirmou ter participado nas campanhas de ajuda humanitária durante a fome na Rússia de 1921-1922, o que explica a sua familiaridade com o material fotográfico dessa época. Durante anos, Ammende foi o secretário-geral do denominado «Congresso Europeu das Nacionalidades», próximo do Partido Nazi, que reunia emigrados da União Soviética. No final de 1933, Ammende torna-se secretário honorário do «Comité de Ajuda às regiões atingidas pela fome na Rússia», dirigido pelo cardeal pró-fascista Innitzer, em Viena. Ammende esteve portanto estreitamente ligado a toda a campanha anti-soviética dos nazis.

Quando Reagan lançou a sua cruzada anticomunista no começo dos anos 80, o

professor James E. Mace, da Universidade de Harvard, julgou oportuno reeditar e

prefaciar o livro de Ammende sob o título Human Life in Rússia. Estávamos no ano de 1984. Desta forma, todas as falsificações nazis, os falsos documentos fotográficos e a pseudo-reportagem de Walker na Ucrânia obtiveram a respeitabilidade acadêmica associada ao nome de Harvard.

No ano anterior, emigrados de extrema-direita ucranianos haviam publicado, nos

Estados Unidos, The Great Famine in Ukraine: The Unknow Holocaust. Douglas Tottle pôde verificar que todas as fotografias deste livro datam dos anos 1921-1922. Por exemplo, a foto da capa pertence ao doutor F. Nansen, do Comité Internacional de Ajuda à Rússia, e foi publicada em Information n.º 22, Génova, 30 de Abril de 1922, pág. 66.

O revisionismo dos neonazis «revê» a história para justificar, antes de tudo, os crimes bárbaros do fascismo contra a União Soviética. Os neonazis negam também os crimes cometidos pelos hitlerianos contra os judeus. Negam a existência dos campos de extermínio onde pereceram milhões de judeus. E inventam «holocaustos» pretensamente cometidos pelos comunistas e pelo camarada Stáline. Com esta mentira, fabricam uma justificação das matanças bestiais que os nazis cometeram na União Soviética. E para este revisionismo ao serviço da luta anticomunista, receberam o pleno apoio de Reagan, Bush, Thatcher e companhia.(continua)

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