quinta-feira, 14 de maio de 2015

A COLETIVIZAÇÃO E O " HOLOCAUSTO UCRANIANO" (III)




 

O uso indevido do cinema

 

A campanha da «fome-genocídio», lançada pelos nazis em 1933, atingiu o seu auge

meio século mais tarde, em 1983, com o filme Harvest of Despair [A Colheita do

Desespero], destinado ao grande público, e com o livro Harvest of Sorrow [A Colheita da Dor], de Robert Conquest (1986), dirigido à intelectualidade.

Os filmes A Colheita do Desespero, sobre o «genocídio ucraniano», e The Killing

Fields [Terra Sangrenta], sobre o «genocídio» no Cambodja, foram as duas obras mais importantes, criadas pelo séquito de Reagan, para convencer as pessoas de que o comunismo era sinônimo de genocídio.

Harvest of Despair obteve a medalha de ouro no 28.° Festival Internacional do

Cinema e da TV de Nova Iorque, e em 1985. Os mais importantes testemunhos sobre o «genocídio» que aparecem neste filme são apresentados por nazis alemães e seus antigos colaboradores. A primeira testemunha, Stepan Skrípnik, foi redator-chefe do jornal nazi Volin durante a ocupação alemã. Em três semanas, com o beneplácito das autoridades hitlerianas, este homem foi promovido de leigo à posição de bispo da Igreja ortodoxa ucraniana e, em nome da «moral cristã», fez uma ruidosa propaganda a favor da Nova Ordem. No final da guerra, refugiou-se nos Estados Unidos.

O alemão Hans Von Herwarth é outra testemunha. Trabalhou na União Soviética no serviço que recrutava homens para o exército do general Vlássov17 entre os prisioneiros soviéticos. O seu compatriota Andor Henke, que era um diplomata nazi, figura também no filme.

Para ilustrar a «fome-genocídio» de 1932-1933, os autores utilizaram sequências de notícias filmadas anteriores a 1917, fragmentos dos filmes A Fome do Tsar, de 1922, Arsenal, de 1929, e excertos de O Cerco de Leningrado, filmado durante a II Guerra Mundial.

Atacado publicamente em 1986 por tais falsificações, Marco Carynnik, que esteve na base deste filme e foi responsável pelas pesquisas, fez a seguinte declaração pública:

«Nenhum dos fragmentos filmados de arquivo data da fome ucraniana e só em muito poucos casos foi possível confirmar a autenticidade das fotografias apresentadas de 1932-33. No final do filme, a sequência dramática de uma jovem macilenta, que também tem sido usada na promoção do filme, não data da fome de 1932-33.» (…)«Fiz questão de notar que este gênero de inexatidões é inadmissível, mas não me quiseram ouvir», disse Carynnik numa entrevista.18

                                            

Colheita de tristeza: Conquest e a reconversão dos nazis ucranianos

 

Em Janeiro de 1978, Davie Leigh publicou um artigo no Guardian, de Londres, revelando que Robert Conquest tinha trabalhado para o serviço de desinformação, oficialmente designado Information Research Department (IRD), pertencente aos serviços secretos ingleses. Nas embaixadas inglesas, era tarefa do responsável do IRDcolocar material «falsificado» nas mãos dos jornalistas e personalidades públicas. Leighafirmou: «Robert Conquest pertenceu ao serviço IRD (Information  ResearchDepartment). Trabalhou para o Ministério dos Negócios Estrangeiros até 1956.»19

Por proposta do IRD, Conquest escreveu um livro sobre a União Soviética; um terço da edição foi comprada pela Praeger, que publica e distribui frequentemente livros por encomenda da CIA. Em 1986, Conquest contribuiu para a campanha de Reagan, que procurava convencer o povo americano do perigo de uma eventual ocupação dos Estados Unidos pelo Exército Vermelho! O livro de Conquest intitulou-se Que Fazer Quando os Russos Chegarem: um manual de sobrevivência.

No seu livro O Grande Terror, publicado em 1973, Conquest calculou o número de mortos da coletivização de 1932-1933 entre cinco e seis milhões, metade dos quais na Ucrânia. Exatamente dez anos mais tarde, com a ajuda da histeria anticomunista do período de Reagan, Conquest julgou oportuno alargar as condições da fome até 1937 e aumentar as suas «estimativas» para 14 milhões de mortos.

O seu livro Harvest of Sorrow, publicado em 1986, é uma versão pseudo-académica da história que é contada desde os anos 30 pela extrema-direita ucraniana. Conquest afirma que a extrema-direita ucraniana travou um combate «anti-alemão e antisoviético », repetindo assim a mentira que os bandos criminosos inventaram após a sua derrota, quando procuravam emigrar para os Estados Unidos.

 

Na sua abordagem da história ucraniana, Conquest refere a ocupação nazi uma única vez, como um período entre duas vagas de terror vermelho!20 No seu relato omitiu completamente o terror bestial que os fascistas ucranianos promoveram  durante a ocupação alemã porque encontrou neles os seus melhores informadores sobre a «fomegenocídio ».

Románe Chukhévitch comandou o batalhão Rossignol, constituído por ucranianos de direita que vestiam o uniforme alemão. O seu batalhão ocupou Lvov a 30 de Junho de 1941. Em três dias massacrou sete mil judeus. Em 1943, Chukhévitch foi nomeado comandante do Exército Insurreccional Ucraniano (EIU), de Stepan Bandera, cujos membros alegaram após a guerra ter combatido os alemães e os vermelhos.21

Todos os «relatos» dos combates alegadamente travados contra os alemães revelaram-se falsos. Afirmaram ter executado o chefe do Estado-Maior das SA, Victor Lutze, quando este faleceu num acidente de viação perto de Berlim. Disseram ter enfrentado dez mil soldados alemães perto de Volnia, no Verão de 1943. No entanto, o historiador Reuben Ainsztein provou que, durante esta batalha, cinco mil ucranianos de direita participaram ao lado de dez mil soldados alemães numa grande operação de cerco e aniquilamento do exército de resistentes dirigido pelo célebre bolchevique Aleksei Fiódorov!22/23.

Ainsztein assinala: «Os bandos do Exército Insurrecional Ucraniano, conhecido como “banderistas”, revelaram-se os inimigos mais perigosos e mais cruéis dos judeus sobreviventes, dos camponeses e dos colonos polacos e de todos os resistentes antialemães24

A 14.ª divisão Waffen-SS da Galícia, ou divisão Galitchina, foi criada em Maio de

1943. No apelo à incorporação dos ucranianos, Kubióvitch,25 chefe da Organização dos Nacionalistas de Direita ucranianos, tendência Mélnik,26 declarou: «Chegou o momento há tanto tempo esperado, agora que o povo ucraniano tem de novo a possibilidade de combater de armas na mão o seu inimigo mais atroz, o bolchevismo moscovita-judeu. O führer do Grande Reich alemão aceitou a formação de uma unidade separada de voluntários ucranianos27

 

Inicialmente, os nazis tinham imposto a sua autoridade directa na Ucrânia sem

concederam qualquer tipo de autonomia aos seus aliados ucranianos. Foi na base desta rivalidade entre fascistas alemães e ucranianos que os nacionalistas de direita construíram mais tarde o mito da sua «oposição aos alemães». Repelidos pelo ExércitoVermelho, os nazis mudaram de táctica em 1943, atribuindo um maior  papel aos assassinos ucranianos. A criação de uma divisão «ucraniana» da Waffen-SS foi considerada como uma vitória do «nacionalismo ucraniano»! Em 16 de Maio de 1944, Himmler, o chefe das SS, felicitou a divisão Galitchina por ter desembaraçado a Ucrânia de todos os seus judeus.

Wasyl Veryha, um veterano da 14.ª divisão Waffen-SS, tendência Mélnik, escreveu em1968:

«O pessoal integrado na divisão tornou-se a coluna vertebral do Exército Insurrecional Ucraniano (...). O comando do EIU enviou também homens para receberem treino militar adequado na divisão. Isto reforçou o EIU que permaneceu sobre o solo da pátria (após a retirada alemã), sobretudo ao nível das chefias, comandantes e instrutores28

Embora a Organização dos Nacionalistas Ucranianos («ONU»), da tendência Mélnik, e a «ONU», da tendência Bandera, fossem concorrentes que, por vezes, chegavam ao confronto armado, constatamos que ambas colaboraram contra os comunistas sob a direção dos nazis alemães.

 O oficial nazi Schtolze revelou diante do Tribunal de Nuremberga que Canaris, o chefe da espionagem alemã, havia «dado instruções para formar redes clandestinas para continuar a luta contra o poder soviético na Ucrânia. (...) Agentes competentes eram deixados no terreno especialmente para dirigirem o movimento nacionalista.»29

Assinale-se que o grupo trotskista de Mandel continuou a apoiar a luta armada «antistalinista », conduzida pelos bandos de nazis ucranianos entre 1944 e 1952.

Durante a guerra, John Loftus foi responsável pelo serviço de investigações especiais do Departamento de Justiça de Washington, encarregado de detectar nazis que tentavam infiltrar-se nos Estados Unidos. No seu livro, The Belarus Secret, afirma que o seu serviço se opôs à entrada no país de nazis ucranianos. Todavia, Frank Wisner, que dirigia o Office de coordenação política, um serviço de informações, permitiu a entrada sistemática nos EUA de antigos nazis ucranianos, croatas e húngaros. Wisner, que teria mais tarde um importante papel na CIA, declarou: «A Organização dos Nacionalistas Ucranianos e o Exército Insurrecional Ucraniano, exército de resistentes por ela criado em 1942 (sic), lutaram duramente tanto contra os alemães como contra os russos soviéticos.» Aqui se vê como os serviços de informações americanos, imediatamente após a guerra, recuperaram a versão da história apresentada pelos nazis ucranianos, com o objetivo de utilizar estes anticomunistas na luta clandestina contra a União Soviética.

Loftus responde a Wisner: «É completamente falso. Um agente do Corpo de Contra- Informação dos Estados Unidos fotografou 11 volumes de fichas secretas internas da “ONU” relativas a Bandera. Essas fichas mostram claramente que a maior parte dos seus membros trabalhava para a Gestapo ou para as SS como polícias, executores, caçadores de resistentes e de funcionários municipais30

Nos Estados Unidos, antigos nazis ucranianos criaram «institutos de investigação»

para difundir a sua história «revista» da II Guerra Mundial. Loftus assinala: «O financiamento desses “institutos de investigação”, que não eram outra coisa senão grupos de cobertura para antigos oficiais das informações nazis, era assegurado pelo Comité Americano para a Libertação do Bolchevismo31

 

Sem comentários:

Enviar um comentário