terça-feira, 19 de maio de 2015

A COLETIVIZAÇÃO E O "HOLOCAUSTO UCRANIANO"(FINAL)




 

Frederick Schuman viajou como turista pela Ucrânia durante o período da fome. Já

como professor do Williams College, publicou, em 1957, um livro sobre a União Soviética.

 

Nesta obra fala-se da fome.

«A oposição (dos kulaques) manifestou-se de início pelo abate do gado bovino e

cavalar, que consideravam preferível a vê-los coletivizados. Dado que a maioria das vacas e dos cavalos pertencia aos kulaques, o resultado foi terrível para a agricultura soviética. Entre 1928 e 1933, o número de cavalos passou de cerca de 30 milhões para menos de 15 milhões; de 70 milhões de cabeças de gado bovino, das quais 31 milhões vacas, passou-se para 38 milhões, das quais 20 milhões de vacas; o número de carneiros e cabras diminuiu de 147 milhões para 50 milhões e o de porcos, de 20 milhões para 12 milhões. Em 1941, a economia rural soviética ainda não tinha recuperado completamente destas perdas terríveis (...) Alguns (kulaques) assassinaram funcionários, incendiaram propriedades coletivas e chegaram a queimar as suas próprias colheitas e sementes. Um número ainda maior recusou-se a semear e a colher, talvez na convicção de que as autoridades lhes fariam concessões e lhes assegurariam de qualquer forma a alimentação. O que se seguiu foi a “fome” de 1932-1933. (...)

Relatos macabros, fictícios na sua maior parte, apareceram na imprensa nazi e na

imprensa de Hearst nos Estados Unidos (...). A fome, nas suas fases ulteriores, não foi o resultado de um défice de alimentação, apesar da redução importante das sementes e das colheitas, consequência das requisições especiais na Primavera de 1932, motivadas aparentemente pelo receio de uma guerra com o Japão. A maior parte das vítimas foram kulaques que se haviam recusado a semear os seus campos ou que tinham destruído a sua colheita35

É interessante constatar que este testemunho é confirmado por um artigo publicado

em 1934, de Isaac Mazepa, chefe do movimento nacionalista ucraniano e antigo

primeiro-ministro de Petliúra em 1918. Na altura, gabou-se de a direita ter conseguido em 1930-1932 sabotar em grande escala os trabalhos agrícolas. «Começou por haver distúrbios nos kolkhozes, noutros lugares foram mortos funcionários comunistas e seus colaboradores. Mas depois desenvolveu-se

 

]sobretudo um sistema de resistência passiva que visava entravar sistematicamente os planos dos bolcheviques para as sementeiras e

colheitas. Os camponeses faziam parte da resistência passiva; mas, na Ucrânia, a

resistência adquiriu o caráter de uma luta nacional. A oposição da população

ucraniana provocou o descalabro do plano de colheitas de 1931 e, sobretudo, de 1932. A catástrofe de 1932 foi o golpe mais duro que a Ucrânia soviética suportou depois da fome de 1921-1922. As campanhas das sementeiras falharam tanto no Outono como na Primavera. Vastas áreas foram deixadas incultas. Ainda por cima, no ano anterior, no início das ceifas, em várias regiões, sobretudo no Sul, 20, 40 e mesmo 50 por cento dos cereais foram deixados nos campos, não foram colhidos ou foram destruídos durante a malha36

A segunda causa da fome foi a seca que atingiu grandes zonas da Ucrânia em 1930,

1931 e 1932. Para James E. Mace, de Harvard, trata-se de uma história inventada pelo regime soviético. No entanto, Michail Kruchevski, um dos principais historiadores nacionalistas, na sua História da Ucrânia, refere-se ao ano de 1932

 

 

nos seguintes termos: «Este novo ano de seca coincidiu com condições agrícolas caóticas.»37

O professor Nicholas Riasnovsky, que lecionou no Russian Research Center, em

Harvard, escreve que os anos 1930 e 1931 foram marcados por condições de seca. O

professor Michael Florinsky, que lutou contra os bolcheviques durante a Guerra Civil, assinala: «Secas severas em 1930 e 1931, especialmente na Ucrânia, agravaram a situação da agricultura e criaram condições próximas da fome38

 

 

A terceira causa da mortalidade foi uma epidemia de tifo que assolou a Ucrânia e o

Cáucaso do Norte. Hans Blumenfeld, um arquitecto canadiano de renome, que se

encontrava na época na cidade de Makaiévka, escreveu: «Não há dúvida de que a fome tem feito muitas vítimas. Não disponho de dados para calcular o seu número. (...)

Provavelmente a maior parte das mortes de 1933 foi causada por epidemias de tifo, de febre tifóide e de disenteria. Doenças transmitidas pela água eram frequentes em Makaiévka; eu próprio sobrevivi à justa de um ataque de febre tifóide

Horslet Grant, o homem que inventou a estimativa absurda de 15 milhões de pessoas mortas em 1932), assinala, todavia, que «o pico da epidemia de tifo coincidiu com o da fome». (...)  É impossível separar estas duas causas que foram as mais importantes em número de vítimas39

A quarta causa da fome foi a inevitável desordem provocada pela reorganização total da agricultura e igualmente profunda transformação de todas as relações económicas e sociais: a falta de experiência, a improvisação e confusão nas diretivas, a falta de preparação, o radicalismo esquerdista de determinadas camadas mais pobres e de alguns funcionários.

O número de um a dois milhões de mortos da fome é importante. Estas perdas

humanas foram largamente causadas pela oposição feroz das classes exploradoras à

organização e à modernização da agricultura numa base socialista. Mas a burguesia

inscreverá estas mortes na conta de Stáline e do socialismo. Este número, de um a dois milhões, deve ser comparado com os nove milhões de mortos causados pela fome de 1920-1921. Esta foi essencialmente provocada pela intervenção militar de oito potências imperialistas e pelo apoio que prestaram aos grupos armados reacionários.

 

A fome não foi além do período que precedeu a colheita de 1933. Medidas  extraordinárias tomadas pelo governo soviético garantiram o sucesso da colheita desse ano. Logo na Primavera, 16 mil toneladas de sementes, alimentos e forragens

 

foram enviados para a Ucrânia. A organização e a gestão dos kolkhozes foram melhoradas e vários milhares de tratores, de debulhadoras e de caminhões suplementares foram fornecidos.

Hans Blumenfeld apresenta nas suas Memórias um resumo da experiência que viveu durante a época da fome na Ucrânia. «Uma conjunção de um número de fatores (a causa). Em primeiro lugar, o Verão quente e seco de 1932, que já tinha visto no Norte deViátka,40 fez fracassar a colheita nas regiões semi-áridas do Sul.  Depois, a luta pela coletivização tinha desorganizado a agricultura. A coletivização não era um processo que seguia uma ordem e regras burocráticas. Consistia em ações dos camponeses pobres, encorajados pelo Partido. Os camponeses pobres revelavam grande entusiasmo em expropriar os kulaques, mas mostravam menos fervor na organização de uma economia cooperativa. Em 1930, o Partido já tinha

 

enviado quadros para combater e corrigir os excessos. (...) Depois de, em 1930, ter dado provas de prudência, o Partido desencadeou nova ofensiva em 1932. Como consequência, a economia dos kulaques deixou de produzir nesse ano e a nova economia coletiva ainda não estava a produzir em pleno. Com uma produção insuficiente, assegurava-se, em primeiro lugar, as necessidades da indústria urbana e das forças armadas; não era possível fazer de outro modo, já que o futuro de toda a nação, inclusive dos camponeses, dependia delas (...)

 

Em 1933, as chuvas foram suficientes. O Partido enviou os seus melhores quadros para ajudar no trabalho organizativo dos kolkhozes. Tiveram êxito. Após a colheita de 1933, a situação melhorou radicalmente e com uma velocidade impressionante. Tive a impressão de que havíamos puxado uma carroça muito pesada através de uma montanha na incerteza de o conseguirmos, mas, no Outono de 1933, tínhamos ultrapassado o cume e a partir daí podíamos avançar em ritmo acelerado41

Hans Blumenfeld sublinha que a fome atingiu tanto as regiões do Baixo Volga e a

Região do Cáucaso do Norte como a Ucrânia.

«Isso refuta o “facto” de um genocídio anti-ucraniano similar ao holocausto antisemita de Hitler. Para os que conheceram bem o déficit desesperado de força de trabalho que havia na altura na União Soviética, a ideia de os seus dirigentes

reduzirem deliberadamente esse recurso raro é absurda42

 

A Ucrânia sob a ocupação nazi

 

Os exércitos japoneses ocuparam a Manchúria em 1931 e tomaram posição ao longo da fronteira soviética. Em Janeiro de 1933, Hitler chegou ao poder. Os programas de reorganização industrial e agrícola, empreendidos pela URSS no período 1928-1933, tinham vindo no momento certo. Só a sua realização, a custo de uma mobilização total das forças, tornou possível a resistência vitoriosa contra os nazis. Por ironia da história, os nazis começaram por acreditar nas suas próprias mentiras sobre o genocídio ucraniano e sobre a precariedade do sistema soviético.

O historiador Heinz Hohne escreveu o seguinte: «Dois anos de guerra sangrenta na Rússia, que tinham desalentado mais do que um, constituíam a prova cruel da

inexactidão da fábula dos “unter-menschen”. Desde Agosto de 1942, as Sicherheitsdienst [SD] assinalavam, nos seus Relatórios do Reich, que crescia no povo alemão o sentimento de ter sido vítima de quimeras. As grandes massas dos

exércitos soviéticos, a sua qualidade técnica e o esforço gigantesco da industrialização empreendido pelos soviéticos – tudo isto em contradição aguda com a imagem anterior da União Soviética – provoca uma impressão avassaladora e apavorante. As pessoas perguntam-se como conseguiu o bolchevismo produzir tudo isto43

 

O professor americano William Mandel escreveu em 1985: «Na parte Oriental, a mais extensa da Ucrânia, que era soviética há 20 anos, a lealdade era dominante e quase geral. Havia meio milhão de guerrilheiros soviéticos (...) e 4,5 milhões de homens de etnia ucraniana combatiam no exército soviético. É evidente que este exército teria ficado extremamente enfraquecido se tivesse havido desentendimentos importantes num contingente tão amplo».

E o historiador Roman Szporluk confessa que as «zonas operacionais do

nacionalismo ucraniano organizado (...) estavam limitadas aos antigos territórios

polacos», quer dizer, à Galícia. Sob a ocupação polaca, o movimento fascista ucraniano manteve a sua base até 1939.44

 

 

As mentiras do holocausto ucraniano foram inventadas pelos hitlerianos no âmbito da preparação para a conquista dos territórios ucranianos. Mas desde que puseram o pé em solo ucraniano, os «libertadores» nazis encontraram uma das mais encarniçadas resistências. Aleksei Fiódorov comandou um grupo de resistentes que eliminou 25 mil nazis durante a guerra. No seu livro, Resistentes da Ucrânia, mostra de forma admirável a atitude do pequeno povo, ucraniano ante os nazis. Aconselha-se vivamente a sua leitura como antídoto contra todas as historietas sobre o «genocídio ucraniano» de Stáline.45

 

 

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