sábado, 23 de maio de 2015

AFRICA: A DIFICIL LUTA CONTRA O IMPERIALISMO

Moçambique reforça relações*

Carlos Lopes Pereira

23.Mai.15 ::

Dentro de poucas semanas Moçambique comemora o 40.º aniversário da independência. Uma simbólica Chama da Unidade percorre aldeias, vilas e cidades, de Norte para Sul, enaltecendo os valores da paz, do patriotismo e da unidade moçambicana. Valores que o imperialismo e os seus aliados locais continuam a não deixar prosperar em África.


Em vésperas de festejar 40 anos de independência nacional, Moçambique intensifica as relações regionais e continentais.
O presidente Filipe Nyusi esteve três dias na Tanzânia, vizinha a Norte e aliada da Frelimo nos anos 60 e 70, durante a luta emancipalista contra o colonialismo.
Nessa visita, a convite do homólogo tanzaniano, Jakaya Kikwete, o dirigente moçambicano assistiu a um fórum económico em Dar-es-Salam, discursou perante o parlamento na capital política, Dodoma, e deslocou-se à ilha de Zanzibar.
Para além do reforço da cooperação económica entre os dois países, Nyusi explicou aos governantes tanzanianos a situação em Moçambique, no quadro do novo ciclo saído das eleições de Outubro de 2014. E, segundo o jornal Notícias, de Maputo, assegurou durante um encontro com diplomatas africanos em Dar-es-Salam que «Moçambique está calmo e estável».
Nyusi e a Frelimo venceram as eleições, consideradas pela comunidade internacional «justas e transparentes», e, hoje, as instituições, incluindo o parlamento, funcionam normalmente. Mas Afonso Dhlakama, líder da Renamo, a segunda força política, exige «autonomia» para as províncias onde conquistou mais votos, questão delicada que o governo moçambicano tem procurado gerir «com o esforço centrado no diálogo».
A necessidade de preservação da paz e de consolidação da unidade nacional para prosseguir o desenvolvimento – prevê-se em 2015 um crescimento de 7,5 por cento do PIB, em linha com os números da última década – tem sido um dos temas permanentes do discurso do presidente moçambicano.
Dentro de poucas semanas, a 25 de Junho, Moçambique comemora o 40.º aniversário da independência. Desde já, uma simbólica Chama da Unidade percorre aldeias, vilas e cidades, de Norte para Sul, enaltecendo os valores da paz, do patriotismo e da unidade moçambicana.
Regressado da Tanzânia, Nyusi recebe esta semana o presidente Jacob Zuma, da África do Sul, outro vizinho e aliado de Moçambique. A visita «enquadra-se no contexto do fortalecimento e aprofundamento das relações de irmandade, amizade e cooperação» entre os dois países, bem como «no reforço da cooperação bilateral, nos domínios político, económico e social de interesse mútuo» e no âmbito regional da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral).
Da agenda das conversações entre os presidentes Nyusi e Zuma e delegações fará parte decerto a questão da emigração de trabalhadores moçambicanos para as minas sul-africanas. Recentemente, uma onda de violência xenófoba nas zonas de Durban e Joanesburgo forçou milhares de africanos a abandonar a África do Sul e a regressar aos seus países. Entre esses imigrantes maltratados contavam-se cidadãos do Malawi, do Zimbabwe e de Moçambique. 
Obasanjo em Maputo 
No âmbito desta multifacetada actividade político-diplomática promovida pelos governantes moçambicanos, passou há dias por Maputo o general Olusegun Obasanjo. Antigo presidente da Nigéria, é uma figura respeitada em África, um «sábio», muitas vezes chamado pela União Africana para encabeçar observadores em eleições ou intermediar conflitos entre países ou facções.
Obasanjo foi portador de um convite ao presidente Nyusi para assistir à cerimónia de posse do novo presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, prevista para 29 de Maio, em Abuja. Em declarações à imprensa, considerou «aberrações» e «passageiros» os conflitos em África provocados pela não aceitação de resultados eleitorais, já que tais conflitos não representam, antes contrariam, a vontade de paz dos povos.
«Tivemos eleições aqui [em Moçambique] e decorreram bem, seguiram as normas legais. Tivemos eleições em 15 outros países da África, acabo de estar como observador no Sudão, houve eleições também no Togo. Mesmo que haja uma situação anómala, que não se utilize um único caso para julgar a África. Prefiro ver isso como uma aberração, que passará. Tais conflitos já não têm lugar em África», defendeu Obasanjo.
O velho general não se referiu explicitamente à situação no Burundi, o mais recente destes conflitos pré ou pós-eleitorais. Depois de semanas de manifestações populares contra a recandidatura de Pierre Nkurunziza a um terceiro mandato presidencial, registou-se uma tentativa de golpe de estado militar.
Aproveitando a ausência do presidente em Dar-es-Salam, aonde assistia precisamente a uma cimeira sobre a situação no seu país, alguns generais tentaram derrubá-lo. Houve combates entre golpistas e tropas leais ao governo, com a vitória dos apoiantes de Nkurunziza e a fuga ou prisão dos revoltosos.
Após o golpe falhado, o presidente remodelou o governo, as manifestações anti-Nkurunziza regressaram às ruas dos bairros da periferia de Bujumbura e vários dirigentes africanos pediram o adiamento das eleições.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2164, 21.05.2015

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