sábado, 3 de outubro de 2015

O CRASH NO MERCADO DE AÇÕES

     

– Sintoma da decadência capitalista

por Deirdre Griswold

















Se há algo que mostre dramaticamente a irracionalidade do sistema económico capitalista, é um crash do mercado financeiro. Isto acontece após um período de euforia nos mercados que conduziu os preços a alturas nunca vistas e a enormes somas de dinheiro que mudaram de mãos – nos dias atuais, habitualmente de modo electrónico.

Então chega o dia do ajuste de contas. O que parecia riqueza sólida no dia anterior subitamente transforma-se em tinta vermelha. Isto é o que começou a acontecer na terceira semana de Agosto aos mercados de todo o mundo.

Em tais tempos, só aquele com bolsos fundos podem permanecer no "jogo" e manter seus investimentos, à espera de uma alta renovada. Se os bilionários são capazes de comprar quando os preços afundaram e outros estão em bancarrota, eles posicionam-se para fazer uma "matança" real no mercado – se ele reagir em algum momento.

Na segunda-feira, 24 de Agosto, algumas estimativas colocam as perdas à escala mundial num total de US$10 milhões de milhões. Isto é um milhar, vezes outro milhar, vezes outro milhar, vezes um milhar mais uma vez, vezes 10. US$10.000.000.000.000 – só para por as coisas em perspectiva.

Como é que se pode "perder" US$10 milhões de milhões de riqueza? Ou será que ela realmente existia?

Presumivelmente, este número de US$10 milhões de milhões representa vagamente o valor real de commodities – carvão, aço, veículos, alimentos, abrigo, linhas aéreas, gasolina – que teriam sido produzidos para venda em algum tempo futuro, se o processo de produção e acumulação capitalista tivesse continuado numa rota ascendente.

Que tanto possa ser "perdido" tão rapidamente mostra a natureza precária do capitalismo. Isto ilustra do modo mais absoluto como o sistema do lucro vai contra qualquer planeamento racional da atividade económica humana nesta era de alta tecnologia – quando o fosso entre ricos e pobres, entre classes sociais e entre todos os países se expande na medida em que a produtividade dá saltos em frente.

Quando isto está a ser escrito, os media e muitos sabichões económicos estão a tentar falar com entusiasmo ao mercado, enfatizando sua recuperação parcial dos recordes baixistas de ontem. Ninguém nos media quer fazer previsões tipo profeta da desgraça, sabendo que poderiam ser considerados responsáveis por causar um pânico e mais um mergulho para baixo.

O jogo da culpa

Seja como for, os lançadores de culpas já escolheram o seu alvo. Quase todos os órgãos de propaganda das classes dominantes imperialistas apontaram o dedo para quem atribuem responsabilidade: a China. O mercado de acções da China, após uma grande ascensão de preços baseada em esperanças de futura expansão económica igual ao seu crescimento fenomenal da década passada, tomou um melhor a partir de meados de Junho, de acordo com o Shanghai Composite Index.

Havia então uma concordância geral em que as ações chinesas, especialmente no imobiliário, estavam com preços demasiado altos e o declínio era considerado uma "correção". Mas agora redatores financeiros estado-unidenses começam a descrever a queda continuada das ações chinesas como uma "praga" que de certo modo infectou mercados ocidentais. A suposição aqui é que as condições económicas subjacentes nos países imperialistas do Ocidente eram saudáveis antes de este agente patogénico chinês se infiltrar nos mercados de todo o globo.

Façamos uma pausa.

O que há de saudável acerca dos salários dos trabalhadores nos EUA que hoje compram menos do que o faziam em 1967? O que há de saudável acerca da economia de um país onde um polícia pode prender e matar um homem negro pelo "crime" de sobreviver vendendo cigarros na rua? Como aconteceu com Eric Garner em Staten Island, N.Y. O que há de saudável acerca de um pai ter de trabalhar em duas ocupações a tempo parcial, empregos de baixo salário, só para alimentar seus filhos?

E por falar em salários, não vamos por na média os poucos executivos corporativos que administram actos criminosos deste sistema cão-come-cão e obtém assim lindos prémios com "salários" na casa dos milhões.

Crash das ações, ascensão e crash outra vez

Os crashes no mercado de ações capitalista não têm nada de novo. A China era um país empobrecido, semi-feudal, dominado por senhores da terra quando no século XIX o primeiro grande colapso do mercado começou a sacudir o povo na Europa e nos EUA. A China ainda estava naquelas condições quando em 1929 aconteceu no Ocidente o crash global do mercado, levando a uma década de extrema pobreza para os trabalhadores – a Grande Depressão.

Desde então tem havido crashes do mercado a cada sete ou oito anos. Alguns investidores ganharam, muitos mais perderam. Mas aconteceu uma coisa interessante com o crash de 2008-09. Neste, desde então, nunca houve uma "recuperação" capitalista real.

O desemprego permaneceu alto, mesmo nos países capitalistas desenvolvidos – especialmente na Europa, mas também nos EUA. Milhões de trabalhadores simplesmente cessaram de procurar um emprego e milhões mais ainda tentam entrar no mercado de empregos pela primeira vez.

Os trabalhadores estão sobrecarregados de dívidas que se tornam cada vez mais impagáveis. Hipotecas de casas, hipotecas de carros, dívidas de cartões de crédito, empréstimos a estudantes – são agora vistas como as próximas bolhas a estourarem.

Quando os super-ricos atenuarem seu domínio apertado sobre o seu dinheiro e investirem na produção, é provável que uma fábrica super-automatizada que custa milhares de milhões empregue no máximo uma pequena centena de trabalhadores.

Isto foi o que nos trouxe o capitalismo e não há nenhuma saída fácil

Deitar abaixo o sistema!

Todas as gloriosas expectativas criadas pelos enormes feitos científicos e tecnológicos do último século e meio reduziram-se a isto. Os ricos ficaram inacreditavelmente mais ricos, os pobres estão a ficar mais pobres enquanto são batidos por polícias e guerras. E o ambiente, o planeta em que vivemos, está a ser arruinado por um sistema económico baseado na cobiça e na exploração.

Isso não é uma falha da China. Esperançosamente, as lições deste colapso do mercado incentivarão aqueles na China que querem reorientar seus planos de desenvolvimento afastando-se da utilização do mercado capitalista para estimular a economia. Esta é um estimulante que demasiado rapidamente pode tornar-se um deprimente. E também rompe a solidariedade das massas – a qual tornou possível a transformação da China para o primeiro lugar.

A China não causou esta crise. Ao contrário, foi o êxito do desenvolvimento admiravelmente rápido da China ao longo das últimas décadas que manteve a flutuar as economias capitalistas no resto do mundo. Elas afluíram à China para explorar trabalho barato e permaneceram devido à moderna infraestrutura em expansão rápida e à disponibilidade de milhões de trabalhadores jovens, educados e qualificados. Mas estas coisas vieram da capacidade da China para planear o seu desenvolvimento – o resultado da sua revolução socialista.

Agora verifica-se como o impulso temporário que o crescimento da China deu ao capitalismo ocidental após o crash de 2008 não foi suficiente para manter este sistema em andamento. Todas as leis do desenvolvimento social dizem que é tempo de organizar e combater aqui por um derrube total do sistema – de baixo para cima.       

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